O livro “Religiosidade no Brasil” foi uma compra acertada. Ele trata das diversas religiosidades que surgiram por aqui, as que foram modificadas e as que ainda tentam manter sua forma original.
Essa coletânea de artigos foi inicialmente publicada em 2005 pela Revista da USP. Esgotou rapidamente e em 2012 foi re-lançada como livro. Os autores são todos acadêmicos, professores, historiadores, pesquisadores de cultura, línguas, antropologia e religião. Exceto por Ricardo Mário Gonçalves, autor do capítulo sobre os “vários budismos no Brasil”. Ricardo Gonçalves é o único que se identifica como praticante. Na verdade é um dos pioneiros da introdução do Budismo no Brasil. Veja o vídeo no final dessa página.
O livro tem enfoque histórico. Foi escrito para o mundo acadêmico, então é “seco”, mas não requer conhecimento prévio. Qualquer um conseguirá ler suas quase 400 páginas.
Mais da metade do livro (234 páginas, 9 capítulos) conta como surgiu o universo de religiões protestantes, anglicana e evangélicas por aqui no Brasil. Para muitos esse é um mundo caótico impossível de se entender. Ao final do livro você terá um boa base de entendimento de como nasceram e se organizaram.
Temos um capítulo sobre o ingresso do Judaísmo no Brasil em especial em São Paulo e no norte do Brasil. É bom, mas senti falta de mencionarem a questão dos marranos de Pernambuco e Paraíba (veja vídeo abaixo).
Também encontrará um interessante artigo sobre as variações do catolicismo no Brasil indo do cristianismo santório ao ortodoxismo.
As religiões indígenas e o espiritismo têm capítulos dedicados, mas diferentemente do restante do livro, estes não têm o mesmo enfoque histórico.
O capítulo sobre Espiritismo entitulado “Mediunidade com fins lucrativos” é um estudo de caso da conhecida família Gasparetto. Os Gasparettos para quem não sabe são proprietários de uma das maiores editoras de obras espiritualistas do país. Fizeram muito dinheiro. O capítulo traz a discussão se a prática mediúnica deve ser atividade econômica.
Dos 2 capítulos (23 páginas) de religiões indígenas, um trata sobre cosmogonia e rituais e outro sobre xamãs urbanos. São capítulos bem específicos em seus temas e ficou faltando oferecer uma visão geral de como estão distribuídos pelo Brasil.
O livro quase que poderia se chamar de: “As religiões brancas no Brasil”. Mas não cabe esse título graças a um único capítulo que explica a perseguição das religiões afro-brasileiras pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Aprendi com ele como e porque a IURD incorporou valores das próprias religiões afro-brasileiras que tanto combate.
O livro inclui história do islamismo e do Soka Gakkai por aqui em nossas terras.
É um livro ímpar. Recomendo para quem quer entender de Brasil e suas raízes.