CONTEXTO:
60 anos atrás, na França, para a surpresa de muitos, uma missa foi transmitida pela primeira vez na TV. Devido ao distanciamento social imposto pelo Covid, o papa fez uma missa sozinho na praça de São Pedro no Vaticano. E o Dalai Lama passou a fazer lives. Todos são desafiados pelas novas tecnologias e pelas mudanças das regras sociais.
São essas mudanças apenas superficiais nos rituais? As religiões de fato se modificam à medida que a sociedade muda? Podemos dizer que o crescimento dos evangélicos mostra que eles souberam melhor se adaptar aos novos tempos? Quem não conhece alguém que começou a fazer Yoga, meditação ou prática energética pela internet, zoom ou por aplicativos? Será que essas práticas souberam melhor se adaptar aos novos tempos?
Quando refletimos sobre o assunto a primeira idéia que nos vem à mente é a visão darwinista, uma espécie de “evolução das espécies” para as religiões: os mais adaptados sobrevivem.
O LIVRO “O FUTURO DA RELIGIÃO”
O livro “O futuro da religião na sociedade global” veio mostrar ao autor desse post que existe um outro futuro para as religiões além dessa visão darwinista simplista.
Esse livro é uma iniciativa da Universidade Católica de Goiás em seu programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião. Apesar de ser de 2007, ainda está atualíssimo. Ele apresenta diferentes perspectivas do que podemos imaginar para um futuro das religiões. O livro é uma compilação de artigos. Alguns em espanhol. Não é uma tradução de pensadores de outros continentes de outros tempos ou culturas distantes. É um pensar de personalidade latino-americana e isso é muito bom !
O PROBLEMA E A RESPOSTA
Retiro desse livro uma frase de Marià Corbí que nos dá muito bem uma idéia do tamanho do desafio que é entender o futuro das religiões:
“As religiões não pretendem descrever como é o “absoluto”. Elas querem modelar uma forma de se viver com êxito. Mas o viver com êxito hoje em dia passa pelo consumo, passa por consciência planetária, passa pela interconexão global. E os mitos, os símbolos e os rituais das religiões já não nos ensinam como se viver com êxito. O cidadão contemporâneo, que por sinal, pouco lê não se programa mais com os mitos, com histórias antigas.”
As religiões tem então nada mais que entender a humanidade e propor uma forma de se viver com êxito. O livro não assume essa responsabilidade e não vai nos apresentar uma resposta pronta. Pelo contrário, apresenta diferentes pontos de vista. De forma sintética, há quatro possibilidades para o futuro da religião:
ORIGINALIDADE:
Para os “filósofos”, o assunto do futuro da religião não é novidade. Já é estudado há centenas de anos. Infelizmente, a academia perdeu tempo e ficou presa na teologia tradicional e não conseguiu formar uma teoria da religião em si. No caso do Brasil, ainda nem se conseguiu mapear o que existe por aí de variantes de práticas religiosas, suas misturas, suas histórias.
O livro “O futuro da religião” talvez seja um passo para fora da visão teológica tradicional da academia. A originalidade do livro está em tentar ajudar a construir um pensar mais amplo e imparcial sobre o tema. Tenta construir uma relação política histórica, as religiões e o processo de formação das identidades, a relação religião, etnia e cultura.
Portanto, é um ponto forte do livro não defender uma resposta direta para a pergunta “qual o futuro da religião?”. Ele nos dá embasamento para pensar e observar o que acontece à nossa volta. O livro não vai te trazer respostas óbvias ou superficiais.
PONTOS FRACOS:
QUESTÕES PESSOAIS do autor desse post:
PARA QUEM INDICO:
Não indico o livro para quem está interessado no desenvolvimento espiritual íntimo. O livro é indicado exclusivamente para aqueles que estão tentando criar uma visão sobre o cenário religioso do Brasil, seu passado e seu futuro. Não é um livro gostoso de ler, mas o livro cumpre muito bem o objetivo a que se propõe.
links externos sugeridos pelo autor DESSE POST:
Many Americans Mix Multiple Faiths
Encerro o post adicionando uma pesquisa que mostra um crescimento vertiginoso de pessoas tendo experiências místicas. Isso é um dos desafios para as religiões uma vez que a experiência direta questiona a necessidade de intermediação de um líder religioso e as próprias interpretações que delas surgem. Em 1962, 22% das pessoas tiveram alguma experiência mística. Em 2019 esse número sobe para impressionantes 49% da população. Apesar de serem dados de Estados Unidos, não perde seu valor no contexto que estamos abordando. Veja os dados da pesquisa em:
https://www.pewforum.org/2009/12/09/many-americans-mix-multiple-faiths/#6
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