Antes de comentar o livro me permita uma opinião pessoal.
Desde muito tempo, com a separação entre religião e estado, estabeleceu-se limites do que pode ser discutido. Aqui não se discute religião, ali não se discute política. Essa forma de pensar se mantém até hoje. Escuto desde pequeno “Não se pode misturar religião e política“.
Mas crescemos, vamos estudando e encontrando histórias de homens como Gandhi, Jesus e tantos outros que desafiaram os governantes de sua época. Olhe aqui para o Brasil e veja a relação da história do movimento negro com as religiões afro-brasileiras. Ou mais fácil, olhe a quantidade de políticos evangélicos na câmara e no senado. Veja a íntima relação do islã e forma de governo. O impacto político internacional do budismo com o governo Chinês. A atuação política anti-corrupção de Sri Ravi Shankar. Por toda história, por todos os lados, ao contrário do que me falavam quando pequeno, religião se mistura sim com política. Fato.
O livro de que trata esse post quer como idéia principal mostrar que o movimento espiritualista Nova Era é o resultado de uma mistura de religiosidade com política. Ele quer situar a atual cultura brasileira num quadro maior da história indo desde o período que vai de Epicuro até o final do século XX.
Você deve estar pensando “Ahh…. mas eu não sou religioso, sou espiritualista”. Mas provavelmente é espiritualista com traços Nova Era. E qual o problema de ser Nova Era? Nenhum, contanto que seja uma decisão consciente e não o resultado de uma manipulação.
Olavo de Carvalho, autor do livro “A Nova Era e a Revolução Cultural” é figura conhecida atuante do chamado “pensamento de direita”. Que o leitor não se precipite e não misture a imagem pública de Olavo com o potencial libertador dessa obra.
Nesse livro, Olavo de Carvalho tece críticas sobre Fritjof Capra. Fritjof Capra é físico. E físico é físico. Quando entra para falar sobre espiritualidade dá bolas fora que passam desapercebidas pela maior parte das pessoas. Olavo de Carvalho denuncia que lhe falta conhecimento histórico, político e filosófico e quer lhe descadastrar como líder profético de um novo tempo. Esse é o capítulo 1.
O capítulo 2 segue o mesmo formato trocando apenas o alvo das críticas. No lugar de Fritjof Capra o alvo agora é o pensador italiano da escola de Frankfurt Antonio Gramsci, cuja estratégia política se encontra enraizada com sucesso dentro das universidades, dos filmes, das peças de teatro, dos livros didáticos com suas mensagens marxistas subliminares.
No capítulo 3 temos as semelhanças entre eles.
Esses três capítulos são uma compilação de aulas e conferências, quando o autor ensina que as ideologias não atuam via discursos explícitos. A propagação de ideologias se dá através de uma estratégia subconsciente criando um novo senso comum. É nesse senso comum que existe uma intersecção entre movimento de esquerda, Fritjof Capra e a promessa de salvação pela quântica, a secularização das religiões, as fake news. Esse senso comum é como um grande sopão que leva o nome de Nova Era.
Na visão de Olavo de Carvalho, a Nova Era é um movimento de desocidentalização, abrindo-nos para influências orientais. Sua propagação se dá em etapas. Primeiro afrouxa a relação com o Cristo. Propõe uma relação sem tantas obrigações e vínculos. Como passo evolutivo seguinte o homem se torna ateu cientificista. Depois disso se aproxima do Tao da Física quântica e coisas similares. Daí o sujeito, vítima dessa estratégia, passa a frequentar alguma das milhares de organizações espiritualistas que estão por aí em toda esquina. Depois de anos dedicados em suas práticas virá a desilusão. É então quando a estratégia chega ao seu objetivo final que é… Não darei “spoiler” você terá que ler o livro para saber onde a Nova Era quer nos levar 🙂
O grosso do livro são os apêndices com artigos publicados no período entre 1999 e 2012.
Nessa edição, o livro se encerra com uma entrevista de 18 páginas com o autor em 2014 quando já residente dos EUA.
Olavo de Carvalho, após ter passado um tempo pelo sufismo se converteu ao catolicismo. Mas lhe falta ainda muitas das virtudes cristãs deixando suas brigas particulares e descontentamentos transparecerem por todo o livro.
O livro é super original. Único ao propor uma origem política intencional da Nova Era e não mera secularização ao acaso.
A ficha catalográfica o coloca na prateleira da cultura, mas é sim um livro de política. Esse livro é sim mais sobre revolução cultural e quase nada de espiritualidade. Mas ainda assim é fundamental para os que querem entender a Nova Era.
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