O autor desse post é Recifense, crescido nos bairros do Cordeiro, Iputinga e CDU. Dei uma rodada pelo mundo e voltei para Recife. Ao começar a ler esse livro não é que descubro que ali bem do ladinho onde eu morava foi o berço no Brasil do que chamamos de “Panteísmo”? Não é que descubro que onde hoje é um canal largado que ninguém se atreve a entrar devido à poluição e ao esgoto já foi um rio de águas medicinais que curava e fazia milagres?
O livro “Terapia Panteísta ou Religião da Natureza“, do pesquisador de cultura popular José de Andrade, conta a história de um outro José. Conta como José Amaro Feliciano, pedreiro semianalfabeto, construiu o Círculo Deus e Verdade, o primeiro movimento Panteísta no Brasil que existiu de 1927 a 1964. Zé Amaro do Fundão, como era conhecido, trouxe o que na época era uma nova crença na divindade Natureza e conseguiu atrair milhares de pessoas chamando atenção da mídia e inclusive de políticos.
O livro tem foco histórico e sociológico. Inicia com uma síntese das religiões e como se desenvolvem as religiões populares. Apresenta um panorama superficial da religiosidade popular do Brasil na época. Parte depois para a história de Zé Amaro e como o Círculo Deus e Verdade foi organizado e sua estrutura.
O Círculo Deus e Verdade, além das curas das águas milagrosas, tinha o esforço de estimular a conversão moral de seus seguidores através de mudanças de atitudes e hábitos. Também objetivava mudanças direcionadas a uma melhora dos aspectos materiais dos fiéis.
O Círculo Deus e Verdade, de Zé Amaro, é descrito hoje pelos estudiosos como uma síntese inconsciente de elementos de cultos afro-indo brasileiros e o Kardecismo. Sua teologia e seus hinários tem relação com os rituais de ayahuasca da Amazônia, por onde Zé Amaro teve contato.
A mídia da época classificava esse culto como Panteísta. O conceito de Panteísmo mudou com o tempo e parece que Zé Amaro entendia isso pois em anos mais avançados já dizia: “Hoje a minha ciência não é mais panteísta. O panteísmo vai até o Sol. Estamos na Teosofia que não tem limite, compreende o Todo“.
Zé Amaro faleceu. O culto foi extinto e a organização desfeita.
O livro tem linguagem acadêmica, afinal, o primeiro Zé (José de Andrade), é acadêmico da “pesada”. Graduado pela Universidade Católica de Pernambuco, tem dois mestrados. Seu doutorado em Antropologia pela Sorbonne na França foi orientado por ninguém menos que Roger Bastide. E seu pós-doutorado por Edgar Morin. Ensinou na Paraíba e é pesquisador associado na Universidade de Strasbourg. Então não espere encontrar nada no livro que trate das forças extra-físicas, parapsiquismo, nem de descrição detalhada de rituais. Muito pelo contrário, você encontrará estudo dos hinos, dos panfletos e de seus significados implícitos. Encontrará dados tabulados e tabelas estatísticas.
Recomendo esse livro para os interessados na história das práticas religiosas do Brasil, pois como afirmava o segundo Zé (o Zé Amaro): “É preciso educar-se a pessoa para saber sonhar“.
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