Estudiosos dizem que os textos sagrados das diversas religiões, das escolas de ocultismo, e das mitologias foram escritos em linguagem secreta para que só os iniciados pudessem entender. Os fatos nesses textos históricos descrevem acontecimentos que se desenrolam no íntimo humano. As figuras bíblicas, animais e até mesmo a geografia dessas histórias personificam princípios, forças ou estados de consciência do ser humano. O deserto significa solidão, o fogo é destruição para purificação e por aí vai.
Diz o autor Luiz Antonio Millecco:
“O fenômeno do folclore é semelhante. Seja ele uma lenda, um mito, uma superstição ou uma festividade, traz consigo, envolto na aparência externa, algo de profundo e valioso que deve ser estudado e pesquisado.”
O autor defende que devido nossa ancestralidade, o povo brasileiro é essencialmente místico. Essa forte inclinação para o transcedente impregna nossas lendas.
Diz ainda: “O folclore é sabedoria do povo. Esse saber, contudo não está restrito à culinária, ao lazer ou às superstições. É a manifestação de uma Sabedoria Transcedente que está dentro de nós e da qual somos herdeiros.”
O autor Luiz Antonio Milleco diz que “o transcedente, o sagrado, não cabe por inteiro na mente do homem. Daí a necessidade de mitos, fábulas, lendas e parábolas.” Mas que muito do folclore veio de uma fase primitiva de evolução, e portanto temos que ter cuidado ao aceitá-lo sem ponderação pois “a existência de crendices absurdas não passam de distorções, mal interpretação, conhecimento indevidamente compreendido.”
É aí que entra o estudo do autor no livro “O lado oculto do folclore Brasileiro”. Ele vai fazer essa ponderação. Vai dissecar, buscar separar o joio do trigo através de paralelos com ensinamentos da teosofia, budismo, hinduísmo e com a psicologia analítica de Carl Jung. Considera os fatores hipnóticos, os fatores energéticos e os fatores sugestivos. Considera a forte influência das práticas de raíz africana e indígena. O autor é espírita então vamos encontrar uma predominância de comparações com o espiritismo.
O universo de expressões populares pesquisadas pelo autor é grande. Passa pela fábula do saci, pelas simpatias da festa de São João como enfiar a faca na bananeira, as cantigas de roda, as histórias infantis, as procissões, e até mesmo a semana santa e o natal que já foram praticamente absorvidos em nossa cultura. Veja o sumário (imagem no início desse post) com a lista completa.
O primeiro a ser estudado é o saci. Os diferentes tipos de saci e curupira correspondem aos elementais, ou para os espíritas correspondem aos espíritos de terceira ordem dentro da escala evolutiva proposta por Kardec.
Nessa busca dos ensinamentos através de analogias, em alguns momentos, Luiz Milleco “força a barra”. Por exemplo: Vai tentar explicar o mito do lobisomem como processo de transfiguração via ectoplasma. Se sai melhor quando diz que “Lobisomens ou bruxas são alusões alegóricas ao nosso lado animal.”
Me chamou muita atenção a linguagem simbólica das cantigas e brinquedos de roda. Em especial da conhecida canção infantil “A canoa virou” e “Nessa rua”. Lindo.
Também me interessou a história natalina da “Água salgada” e seu significado. Que não conto aqui pois reduzi-la perderia o encanto.
Confesso que achei duvidosa algumas referências citadas. Coisas do tipo “a ciência já provou que….” . Senti um certo deslumbramento do autor.
Você encontrará esse livro apenas em sebo.
Apenas para o preconceituoso e o desinformado a cultura Brasileira é vazia de ensinamentos. Ela contém verdades assim como as filosofias e principais religiões. O distanciamento por preconceito só aumenta a ignorância do sujeito. O livro é leitura obrigatória para os que se pretendem universalistas.
REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES
Coincidentemente, no exato dia em que terminava de ler o capítulo sobre os Festejos Natalinos fomos minha esposa e eu para um evento no colégio Waldorf onde estuda nossa filha. Chegando lá, os professores leram um capítulo de um livro que também faz um paralelo entre o natal e seus significados ocultos, não ditos. Tirei uma foto que coloco abaixo. O livro de Luiza Helena Lameirão é exclusivo sobre Natal e não tem a mesma diversidade de expressões culturais folclóricas que no livro de Luiz Millecco. Também diferente é que Luiza Helena tem um foco exclusivo dentro da visão Antroposófica de Rudolf Steiner enquanto que Luiz Millecco parte de bases filosóficas, psicológias, espirituais bem diversas. O livro de Luiza Helena é mais convidativo para auto-reflexão, o de Luiz Millecco não.
LIVRO: Ao longo do ano – Atmosferas, reflexões, festividades
Autora: Luiza Helena Tannuri Lameirão
1ª Edição, 2017, 84 páginas
Editora Antroposófica. https://www.antroposofica.com.br/
paulo@meditecomigo.org
Seja avisado de novos resumos. Em média 1 ou 2 livros por semana. Sem propaganda, nem bate-papo. Saia a qualquer hora.
Seja avisado de novos resumos. Em média 1 ou 2 livros por semana. Sem propaganda, nem bate-papo. Saia a qualquer hora..