A FILOSOFIA DA LIBERDADE

Sub-título: Fundamentos para uma filosofia moderna

Se tivesse que resumir as quase 200 páginas desse livro em uma única frase seria:
O livro é uma descrição de uma ponte entre intuição e vida prática. O nome dessa ponte é liberdade, sinônimo de “realização do eu”.

São temas do livro: A intuição, o querer, materialismo, metafísica, missão de vida, a relação ciência e ética, teoria da evolução, o eu, vontade, consciência, os sentidos, liberdade, autonomia e heteronomia.

A IMPORTÂNCIA DESSE LIVRO
Rudolf Steiner, enquanto vivo, publicou cerca de 30 livros. Mas depois de sua morte, artigos e palestras vieram ao público e já totalizam mais de 300 livros.

“Filosofia da Liberdade” é um dos primeiros livros publicados por Steiner. É independente de qualquer outro livro. Na verdade os outros é que dependem dele. Veja no final dessa página um vídeo com prof. Marcelo Rito apresentando uma sugestão de leitura das obras básicas de Rudolf Steiner.

Pode-se perguntar para que serve essa filosofia. A resposta é que ela serve para nos fazer melhores pessoas, melhores pais, melhores médicos, melhores professores etc. A pergunta seguinte é: como saímos da filosofia e conseguimos colocar em prática? A resposta, o como se coloca em prática, vamos encontrar nas diferentes áreas da Antroposofia que Steiner desenvolveu nos anos seguintes à publicação do “Filosofia da Liberdade”. Um dos vídeos no final dessa página aborda a Filosofia da Liberdade de forma prática aplicada ao contexto de um hospital.

Apesar de ser uma obra fundante, de longe não é um livro introdutório à Antroposofia. Para uma introdução, há livros como “Noções Básicas da Antroposofia” de Rudolf Lanz, disponível impresso ou online aqui.

SOBRE A FILOSOFIA DE “Filosofia da Liberdade”
O livro inicia com a discussão sobre o que vem a ser realidade.

O autor confronta seus argumentos com outras formas mais comuns de se entender a realidade, tais como os denominados “realistas ingênuos”, ou mais conhecidos como “materialistas”. O realista ingênuo é aquele que acredita que o pensar acontece como resultado de uma química, um processo neural dentro do cérebro e o único que existe é o palpável, o que é quantitativamente mensurável.

Steiner também confronta sua visão de realidade com a dos idealistas. Os idealistas estão no pólo oposto dos materialistas. Para esses tudo é pensamento. Tudo é criado pela mente. Dizem que é tudo uma grande ilusão, até a experiência sensitiva dos nossos sentidos básicos é pura ilusão. Lembra o filme Matrix onde tudo é uma programação.

Em nossa época, é fácil questionar essas duas visões. A literatura está cheia de gente, antes e depois de Steiner, que já questionou essas duas visões. Até aí nada de novo.

Mas Steiner vai também derrubar uma terceira visão de realidade muito comum em nossa época: o realismo metafísico. Grosso modo, o realista metafísico está entre o materialista e o idealista. O protótipo do realista metafísico é o cientista. Ele se coloca de fora e tenta encontrar as leis que explicam as interações entre a matéria. Se baseiam em fórmulas, em cálculo, lógica. Se baseiam em conceitos como energia e força. Em outras palavras, tentam explicar o mundo com conceitos, mas a substância desses conceitos não faz parte da realidade que estudam. Precisam sempre fazer um recorte e trabalhar com uma realidade reduzida. Só que a realidade é um todo maior. Portanto, a realidade não é realista metafísica. 

A filosofia de Steiner não é nada disso. Steiner é monista. O que pensamos não é uma mera imagem da realidade. A percepção E o que pensamos é a realidade. É nisso e nas implicações que se derivam daí que se baseia toda sua filosofia.

SOBRE LIBERDADE EM “Filosofia da Liberdade”
Diz Steiner: “Liberdade é o bem mais precioso da humanidade e é para muitos a pior das ilusões“. Para entender essa ilusão e o que é real, ele propõe o monismo.

Para ser livre, o homem não pode se curvar diante das idéias e pôr sua vida à serviço dessas idéias. É preciso aprender a não ser um escravo das idéias.

Liberdade é tratada essencialmente em seu aspecto individual. Mas o autor também aborda seu aspecto social e mostra que a paz é possível em uma comunidade onde cada um quer realizar apenas sua individualidade. Apesar de esse ser um ponto que normalmente não se dá atenção, para mim é o que mais justifica sua filosofia.

ORIGINALIDADE
A originalidade do livro é ter partido do monismo (percepção e pensar compõem a única realidade) e daí desse lugar chegar na “pessoa eticamente livre”.

Dificilmente o leitor encontrará algo superior em termos de ética.

PORQUE ESSE LIVRO É IMPORTANTE PARA AQUELES QUE ESTÃO EM UM CAMINHO EVOLUTIVO?
Segundo Steiner, o monismo é o único caminho de acesso aos planos superiores e da experiência espiritual mais elevada. Preste atenção: É o único caminho.

O livro interessará aos que tentam entender o funcionamento da mente, o pesquisador da consciência.

A Antroposofia de Steiner pode parecer um tanto esotérica e mística para muita gente. Mas aqui em “Filosofia da Liberdade” não há nada disso. É completamente racional. Atenderá ao filósofo tradicional. Fala para o cético. E ao mesmo tempo para aquele que está no caminho do auto-conhecimento.

FACILIDADE DE LEITURA
O início do livro é cansativo e é necessário muita vontade para continuar. É um verdadeiro xarope!
Mas do meio para o final, o autor dá um verdadeiro “cavalo de pau”, muda completamente o ritmo e o livro entra num fluxo como que num rio que nos levará a entender a liberdade.
 
Tem passagens brilhantes. O formato que ele escreve é como uma novela. Ele não revela sua idéia de início como fazem os artigos científicos americanos. Ele fica guardando para o final dos capítulos. O autor quer nos levar ao momento “ahaa”. Assim como a pedagogia Waldorf faz com as crianças, o autor faz isso conosco adultos.
 
Se o leitor nunca parou para se observar, ou para observar seus pensamentos provavelmente não vai apreciar o livro. Alguns termos não são bem explicados. Por exemplo:
  • Se você não entende o que significa um “pensar vivo“, talvez tenha dificuldade com o livro.
  • Ou quando ele diz: “A individualidade nasce no pensar vivo intuitivo e só se expressa no agir com amor à ação“. Não é algo que se pode ler de forma automática. Essa única frase tem muito a nos oferecer, de ordem prática inclusive.
Apesar de ser um livro de filosofia, a linguagem é fácil. Mas não se enganem, a linguagem é fácil mas o livro é denso. Não é leitura leve. É relativamente pequeno em tamanho mas não será numa sentada que ele será lido. Provavelmente você vai querer discutir com outras pessoas. O recomendado é já ter lido “O método cognitivo de Goethe” e ou “Verdade e Ciência“, ambos do mesmo autor. Esses livros ajudam o leitor a entender o caminho de pensamento de Steiner.
 
PONTOS NEGATIVOS
  • Os taoístas diriam que a filosofia de Steiner é uma busca condicionada. E assim encontramos várias inconsistências no texto. Concordo com a visão não-condicionada da busca de conhecimento taoísta, mas isso nem de longe compromete a obra.
  • O livro tem muito jogo de palavras e pode “pegar” o desavisado.
  • A construção das idéias acontece muito devagar. É enrolado. Gasta-se muito tempo explicando a teoria de terceiros ou com temas que não são mais relevantes em nossa época. Entendo que ele queria exaurir o tema, fechar todas as arestas do raciocínio.
  • Muita coisa é dada e cabe ao leitor refletir e descobrir por si próprio. Poderia ter mastigado mais um pouco, mas isso é a cara de Steiner e parte da essência de sua metodologia. Steiner quer que você pare, pense, medite.

 O QUE ESSE LIVRO NÃO É:

  • Não é um livro New-Age, nem de auto-ajuda.
  • Você não vai encontrar uma lista de normas a seguir nem o que é certo ou errado a se fazer em certos momentos da vida.
  • Não espere encontrar uma lista de exercícios meditativos ou métodos de reflexão.
 
Para finalizar, gostaria de dizer que é improvável que alguém que tenha lido esse livro saia intacto sem rever seu conceito de liberdade.
Recomendo aos que topam escalar montanhas.

VIDEOS SUGERIDOS PELO AUTOR DESSE POST:

Vídeo do prof. Marcelo Rito da Faculdade Rudolf Steiner, apresentando uma sugestão de ordem de estudo das obras de Steiner incluindo aí o “Filosofia da Liberdade”. No vídeo ele fala com propriedade dos principais conceitos.

No vídeo acima, uma boa discussão sobre os primeiros capítulos do livro “Filosofia da Liberdade”. Pessoas que leram o livro apresentam diferentes idéias que conseguiram captar do livro. Há um pequeno problema nos primeiros minutos do vídeo.

Florencia Guglielmo, também da Faculdade Rudolf Steiner nos conta da vida de Rudolf Steiner.

A aplicação da Filosofia da Liberdade contada por um especialista.
Mas atente que a aplicação da Filosofia da Liberdade é maior que isso. Além do nível individual dela nasce toda uma pedagogia, medicina, psicologia, arte, método de produção agrícola e muito mais.

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PAULO HENRIQUE ARAUJO

paulo@meditecomigo.org

Moro em Recife. Desde cedo trabalhei e empreendi em vários segmentos dentro e fora do Brasil. Quando morava na China percebi que deveria dar mais atenção ao caminho espiritual. Além dos cursos e das práticas, os livros também ajudaram na minha jornada. Compartilho aqui alguns resumos na esperança que eles também lhes sejam úteis. Para ver todos os posts de Paulo clique aqui.

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