Certa vez tive uma experiência dessas que chamam de mística. Vi um rio. Deste lado do rio minha consciência, do outro lado, na margem oposta, uma mata desconhecida. Queria olhar para onde o fluxo do rio me levaria. Mas acoplada à essa miragem como que de forma telepática algo me dizia “Vá no sentido da fonte. Beba na fonte”. Os antigos orientais, os indígenas locais e os gregos são todos fontes. Platão é uma dessas fontes e resolvi consultá-lo em um tema de interesse comum a muita gente: a alma.
Em Fédon, livro de Platão, é narrado os últimos momentos da vida de Sócrates. Em suas últimas horas Sócrates discorre sobre a vida, a morte, e o que fica, a alma. Apesar do tema e de toda a situação não pense que é uma história depressiva, pesada ou triste. Sócrates enfrenta seu destino de cabeça erguida e só assim consegue dar sentido a sua vida. Parafraseando os próprios editores, neste livro se abraça a morte como quem abraça a vida.
RECOMENDAÇÃO
O título do livro carrega o nome do principal personagem que conta como tudo se deu pois Platão mesmo não estava lá. Aos interessados é preciso ter atenção para não confundir Fédon com Fedro, nome de um outro livro.
Por ser considerado um de seus livros mais importantes, imaginei que uma pessoa como eu sem base acadêmica em filosofia seria incapaz de ler. Para minha surpresa a filosofia que encontrei é diferente dessa filosofia moderna rebuscada. Fédon tem formato de diálogo entre Sócrates e seus alunos. Não faz uso de conceitos complexos. Pelo contrário, é leve e claro, feito a água da fonte cristalina. Todos podem ler.
CONTEÚDO
O desenrolar do diálogo se dá sobre ideias prévias já existentes. Por exemplo, o próprio conceito de alma já existia antes de Sócrates. Ou o conceito da metempsicose (transmigração das almas) que já era conhecido não só para gregos mas também para budistas e hinduístas.
As argumentações de Sócrates, como por exemplo quando tenta defender a continuação da vida após a morte, não são convincentes.
Sócrates dirá que as almas tem diferentes graus de conhecimento. Que elas trazem consigo conhecimento e que o processo de aprendizagem é uma forma de recordar esse conhecimento perdido.
Ao nos aproximamos do final do livro Sócrates discorrerá sobre o que acontece ao morrermos e traça percurso da alma nos diversos níveis da Terra. Quando começa a ficar interessante nos deparamos com uma linguagem figurada difícil de interpretar, praticamente incompreensível.
Bem, eu achei que ia encontrar novas ideias e conceitos mas tendo já passado mais de 2 mil anos, tudo que esses grandes deixaram, já foi exposto, questionado, debulhado das mais diversas formas.
Mas vi valor em uma coisa que acredito ser a maior lição deste livro. Sócrates age de acordo com suas ideias e vai assim até as últimas consequências. Sua ferramenta é utilizar o intelecto racional inspirado no que é bom. Almeja o bem de todos. E assim posso afirmar que não é um livro apenas de filosofia mas também um livro para desenvolvimento dessa virtude fundamental ao desenvolvimento espiritual: a coerência.
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