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Halvor Eifring é professor de chinês (língua, literatura e cultura) na Universidade de Oslo na Noruega. O livro surge em 2015 após um período de 5 meses em conferências em Taiwan e na própria Noruega. O livro é apoiado pela Universidade do Havaí em Honolulu. Halvor Eifring só assina os dois primeiros capítulos. Os demais 10 capítulos são de diferentes autores. São professores de filosofia, religião e línguas da Índia, dos Estados Unidos, Noruega, Japão, Suécia, Austrália e Inglaterra. O autor preside diversos grupos e ações internacionais relacionadas com meditação. Por isso tanta gente, tantos países.
Os livros que tratam de meditação, quando escritos por ocidentais, em sua maioria têm uma abordagem científica, psicológica, biomédica ou neural. Não é esse o caso. “Asian traditions of meditation” é técnico. Não é prescritivo, é descritivo.
CONTEÚDO DO LIVRO
Os dois primeiros capítulos nos introduz ao universo de meditação abordando temas como: estados mentais, capacidade de atenção, tipos de meditação, meditação direta e meditação não objetiva, samatha e vipassana, meditação temática e não temática.
O terceiro capítulo é uma detalhada explicação dos vários estados de Samadhi encontrados nos Yoga Sutras de Patanjali. Voltarei várias vezes a esse capítulo nos meus estudos futuros sobre o Yoga Sutras. Essas 23 páginas são uma verdadeira pérola. Algo raro de ser encontrado.
No quarto capítulo teremos o funcionamento, a engenharia dos yantras e cakras da meditação tântrica kundalini. Dá ênfase em relacionar etapas meditativas com cada parte do símbolo Sriyantra.
No quinto capítulo, sobre a meditação Jaina, saímos da abordagem técnica e partimos para a abordagem histórica. São poucas páginas, 7 apenas. O jainismo é uma das religiões mais antigas da Índia junto com o Hinduísmo e o Budismo. O ponto do pesquisador nesse capítulo é que as escrituras antigas que poderiam ser a base para seu estilo de meditação se perderam no tempo e o que restou foi incorporado de outras escolas como o Budismo.
No sexto capítulo entramos no universo Sikh, religião que surge no final do século XV. Nam Simram é sua principal meditação. Nam Simram, significa reter o nome divino. Uma prática onde o discípulo contempla internamente a natureza e qualidades de Deus.
O sétimo capítulo são considerações e classificações a partir dos textos em páli, canônicos, fundantes do Budismo. São descritos os diferentes tipos de objetos de apoio meditativo (internos e externos). Também são tratados a postura e o tipo de respiração descritos nessas fontes.
O oitavo capítulo nos apresenta a Chi-med Srog Thig, tipo específico de meditação tibetana para se atingir a longevidade. Longevidade aqui deve ser entendida não como mera saúde física mas como o estado iluminativo que supera espaço e tempo. Essa prática quer nos conciliar com o ambiente externo e permitir que recuperemos a energia vital. Chi-med Srog Thig compreende versos, invocação e devoção à divindades, técnicas respiratórias, mandalas, mudras, orações, uso de ervas, danças, dietas e rituais individuais privados bem como públicos comunitários.
O nono capítulo trata do Kanhua, do Zen Chinês. O Kanhua são textos paradoxais em que o discípulo deve refletir durante afazeres do dia a dia ou mesmo em meditação sentada. O objetivo do paradoxo é colocar a mente em estado máximo de conflito e dessa forma, sem encontrar saída, chegará um momento em que cessará toda sua atividade gerando condições para entrada em estados mentais como o Samadhi.
No décimo capítulo temos comentários sobre meditação na tradição clássica taoísta. São comentários sobre características da postura correta, foco, eliminação de pensamentos e emoções, respiração e estágios resultantes. Para os que já leram o mínimo sobre meditação não haverá novidade alguma em termos de técnica. A beleza do artigo está em o autor ter conseguido compilar elementos de meditação a partir dos textos clássicos de Guanzi, Laozi, Zhuangzi e Lushi Chunqiu. Como assim? Ninguém tinha feito isso antes? Não, não tinham.
“Quite sitting in Neo-Confucionism” é o nome do décimo primeiro capítulo. O artigo apresenta a posição contrária de Zhuxi e seus alunos com relação à demasiada importância dada à meditação quieta (estilo Zen) como forma de desenvolvimento em detrimento do estudo da ética. Nessa época, ética e moral vinham dos livros clássicos do Confucionismo. Trocar o estudo da ética por meditação foi assunto de muito debate entre os Chineses. O artigo é a história desse debate.
O último capítulo, diferentemente dos capítulos anteriores que se fixam em meditações tradicionais, vai nos falar da história das pesquisas científicas sobre meditação. Cobre o período que se inicia nos anos 20 e vai até o final do século XX. Esse artigo mostra como nosso entendimento sobre meditação foi influenciado pelos avanços na psicologia e na tecnologia com seus equipamentos de medição de ondas cerebrais, imagens do cérebro, exames de sangue e hormônios.
SOBRE O TÍTULO
Como se vê no resumo acima, cada capítulo trata de um tema independente não relacionado com o outro. Um título mais adequado para o livro seria então “Temas selecionados das tradições asiáticas de meditação“. É um livro sério e profundo nos temas que se propõe.
O termo asiático no título significa: Tibete, China e Índia.
As religiões associadas às meditações que encontramos no livro são: Budismo, Taoísmo, Sikh e Neo-Confucionismo.
O QUE VOCÊ NÃO VAI ENCONTRAR NESSE LIVRO
– Você não encontrará uma receita com passo a passo para meditar em casa. Não é esse o objetivo.
– Não há um panorama histórico geral das práticas meditativas. Senti falta.
– Alegre-se! Você não irá encontrar qualquer proselitismo religioso no livro.
SOBRE A LEITURA
Alguns capítulos possuem termos em chinês ou em sânscrito/hindi. Isso exige uma leitura mais atenta que o normal. Por esse motivo fica difícil interromper a leitura e conseguir voltar dias depois. Quando interrompia a leitura, acabava por me esquecer do significado dos termos e era obrigado a voltar atrás. Minha sugestão é que os capítulos sejam lidos sem pausas prolongadas, a menos que você já esteja habituado ao linguajar.
Para o leitor que compara diferentes fontes, o lado positivo é que todos esses termos estão com acentuação correta (pinyin) e um glossário com ideogramas. Isso evita confusão.
É um livro fora de série mas é bem especializado. Apesar dos capítulos introdutórios, não é um livro de introdução à meditação. Alguns capítulos serão melhores apreciados se o leitor já tiver alguma prática meditativa e algum conhecimento da história da filosofia chinesa. É um livro caro e portanto é bom saber o que vai encontrar antes de comprar. Por isso escrevi o post. Espero que ajude.
VIDEOS SUGERIDOS PELO AUTOR DESSE POST:
Disposição das principais religiões na China ao longo da história. Informação de apoio para leitura do capítulo 11.
(9 minutos)
Sobre parar a mente. Objetivo muito comum dos meditadores. Devemos mesmo tentar parar a mente e evitar os pensamentos? (8 minutos)
Comentários de Krishnamurti sobre a meditação sentada em silêncio.
(19 minutos)
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