OBJETIVO:
O objetivo principal deste livro é nos lembrar do julgamento final.
E de que serve isso? Bem, o autor Imam al-Haddad argumenta que “o julgamento final é a base da justiça no mundo”. Ele nos explica que sem justiça, a moral dos filósofos é um mito. E é só no momento do julgamento final que a moral se faz existir.
É uma afirmação e tanto. Você leitor pode ler isso e tocar a vida adiante ou pode parar para refletir. O livro é todo assim. À medida que entendemos as etapas da vida somos constantemente convidados a refletir. Dessa forma, o autor tenta abrir nossas mentes e corações para que vivamos corretamente.
O leitor curioso que quer detalhes do sobrenatural não deve fazer muita expectativa desse livro. Apesar de nos falar do sobrenatural, este é um livro de ética. Que nos convoca a assumir as responsabilidades de nossas ações.
O AUTOR
A palavra Haddad é um sobrenome árabe. Esse sobrenome ficou bem conhecido quando o político Fernando Haddad se candidatou a presidente em 2018. Mas a família do político é Libanesa e o autor Imam al-Haddad nasceu na república do Yemem, ao sul da Arábia Saudita (clique aqui e veja no mapa). Já a palavra Imam significa o sacerdote que dirige as orações da mesquita. Imam é um líder comunitário.
Imam al-Haddad (1634-1720) foi um líder islâmico sunita que escreveu vários livros, sendo três deles tidos como importantes obras. São eles: “O livro da assistência” (The Book of Assistance), “Conhecimento e sabedoria” (Knowledge and Wisdom) e esse “As vidas do homem” (The Lives of Man). Nenhum deles ainda traduzido para o português.
“As vidas do homem” é um dos dois livros de referência no mundo islâmico sobre o assunto da vida após a morte. O outro se chama “Remembering death and what follows it” do venerável Imam Al-Ghazalli.
Para escrever esse livro, Imam al-Haddad se baseou no sagrado Alcorão e em outros trabalhos de xeiques, imans e do Hadith que é um conjunto de frases do profeta Maomé utilizado como referência de conduta, referência do certo e do errado.
O LIVRO
O título do livro “The lives of Man” se traduz como “As vidas do homem“. É curioso pois não fala vida no singular e sim vidas, no plural. É assim pois entendem que vivemos por fases. Cada uma delas é apresentada em um capítulo. 5 vidas ou fases, 5 capítulos.
O autor dá descrições e prescrições de cada sub-fase dentro da Dunya (segunda fase, ou segunda vida). Anotei algumas:
Na infância: evitar ambientes e pessoas de conduta negativa, inclusive outras crianças. A vida espiritual deve ser iniciada desde cedo dando disciplina à alma. Na infância é quando se aprende o que pode e o que não pode.
Na juventude: Não desperdiçar tempo em tolices. A produção já começa na juventude. Quem chega aos 20 anos sem ter o que se orgulhar, dificilmente terá do que se orgulhar em algum outro momento da vida.
Maturidade (dos 20 aos 50 anos): Aos 40 anos o homem exibe em seu rosto o balanço entre virtudes e corrupção, entre o bom e o mal. Desatenção, distração e brincadeiras são inapropriados ao homem maduro. No final dessa etapa o homem não deve desejar receber mais nada do mundo. Daqui para frente é só devolução.
Senioridade (50 aos 70 anos): É a fase dada ao homem para que não haja desculpas que não viveu suficiente para fazer o bem.
Decrepitude: (dos 70 em diante). Segundo o livro, esse é o pior momento da vida. Após a maturidade, a pessoa fica obsoleta das coisas mundanas e já não sabe mais como essas coisas funcionam. É o homem senil que vê cair todas as suas capacidades e faculdades inclusive a mental.
Doença e morte: Doenças são lembranças que a vida após a morte nos espera. Os doentes devem viver em esperança e constantemente direcionar os pensamentos para o melhor. Essas pessoas doentes devem ser auxiliadas para esse direcionamento. Para os muçulmanos a forma de ajudar é a oração, recitar o Corão. Devem lembrar os que estão com medo da morte, de suas boas ações e do perdão de Deus. Há um alerta que as tentações também acontecem no exato momento da morte e não apenas durante a vida. Esse capítulo apresenta os cuidados para com os viúvos, como tratar o corpo do falecido, os cuidados necessários no funeral, como orar aos mortos e as instruções para visita a cemitérios.
ORIGINALIDADE
Para mim foi inevitável traçar alguns paralelos com ensinamentos e práticas de outras religiões ou escolas.
A começar pela capa. Acredito que a foto que vemos de um caminho com muitos degraus seja baseada em um dos Hadiths do profeta Maomé quando desenha etapas da vida como uma escada. Encontramos imagem semelhante nos desenhos chineses do caminho espiritual.
Logo no início, quando o autor fala que é na infância que se fixa a moral, as normas, o que pode e o que não pode, me lembro do conceito de Superego de Freud (1856-1939).
Os cuidados e orações nos momentos que antecedem a morte me lembram muito as práticas budistas tibetanas com recomendações estruturalmente bem semelhantes.
Em outras partes via ali conceitos similares aos da Conscienciologia. Como a FEP (ficha evolutiva) e o Illiyyin, o livro das boas ações. O conceito de inversor. O conceito da fase executiva. O conceito do amparador e do anjo com função tarística. Senioridade e a Morexis.
Assim como em outras religiões, Imam al-Haddad diz que o homem pode saber todos os detalhes da vida após a morte, mas se ele se mantém em distração e esquecimento, de nada adiantou esse conhecimento. Esse é o paralelo mais importante: O estudo da morte tem como principal objetivo convidar a pessoa para uma reflexão íntima, rever hábitos e conduta nessa vida encarnada de carne e osso. Seja uma boa pessoa agora. Não deixe para depois.
RECOMENDAÇÃO
É um livro para muçulmanos. Quem não é muçulmano precisa ter mente aberta uma vez que os textos islâmicos têm uma característica de exaltação e devoção à Deus e ao Profeta Maomé que não se vê em outras religiões. Para quem nunca leu nada da literatura islâmica, o texto pode ser bem cansativo.
paulo@meditecomigo.org
Seja avisado de novos resumos. Em média 1 ou 2 livros por semana. Sem propaganda, nem bate-papo. Saia a qualquer hora.
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