A busca espiritual pode se confundir com busca pela nossa identidade. Nos meus estudos e nas minhas interações com capoeira, maracatú e Umbanda percebo que existe um certo exagero de uma África pura que é claramente idealizada. Como que num mito de origem, da terra perfeita. E a coisa não é bem assim.
As histórias que nos contam da África no colégio é uma versão européia, distorcida e quer nos passar a idéia de que os africanos eram seres de nível civilizatório inferior. Incluindo aí sua organização política e práticas religiosas. Devemos buscar outra versão, a de quem estava lá antes.
Um desses pontos de vista é do islamismo, que já estava lá na África quase mil anos antes dos portugueses chegarem. Ao se adentrar pela África o islamismo foi se adaptando, foi sendo “africanizado” mas da mesma forma “islamizou” religiões africanas nativas. O termo utilizado pelo o autor é “enraizado”. O islamismo se enraizou na África. E essas raízes entraram não apenas no âmbito religioso, mas em outras esferas da sociedade como na política, no comércio, no direito, nas artes. Hoje, metade da África é muçulmana.
“Muslim Societies in African History” é livro único dessa temática. Primeiro porque aborda o período antes de 1500. Segundo porque é o único que relata a influência do islamismo na África sub-saariana (ao sul do Saara). E por último, sua análise considera duas vias de entrada do islamismo sendo uma ao norte e pela costa oeste via Oceano Índico. Normalmente os autores só consideram uma limitada faixa do oeste da África e essa diferença muda muita coisa principalmente para nós brasileiros interessados em nossas origens culturais.
É preciso dizer que o ingresso do islamismo na África nem sempre foi pacífico. A escravidão islâmica não foi melhor que a escravidão que já existia por entre as próprias comunidades africanas tribais. Mas nada se compara ao que fizeram os portugueses e espanhóis com ajuda dos próprios africanos. O livro é imparcial mas nota-se que em poucos momentos o autor “doura a empada” a favor do islamismo.
O autor David Robinson é professor da Universidade de Michigan nos EUA. O livro é publicado pela “Cambridge University Press”. Ou seja, não é um lunático. Sabe o que está falando e com muita gente em volta corroborando com suas idéias. Um deles, o qual David Robinson foi parceiro, é Edward Said, autor do famoso livro “Orientalismo: O Oriente como invenção do Ocidente“.
Esse é um pequeno grupo que quer abrir nossos olhos para um outro oriente e uma outra África.
links externos sugeridos pelo autor DESSE POST:
Algumas páginas do livro estão disponíveis pelo Google Books em: https://books.google.com.br/books?id=jZEL3kdcQggC&hl=pt-BR&redir_esc=y
paulo@meditecomigo.org
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