Você leitor deve estar se perguntando: o que um livro de Paulo Coelho, notoriamente conhecido como sendo um autor “místico” ficcional, está fazendo aqui no blog do MediteComigo? Acontece que nem sempre as coisas são como a gente pensa que são.

Existe uma resistência muito grande para com Paulo Coelho nas esferas espiritualistas, principalmente por se divulgar por aí que seus livros são muito carregados de misticismo, ficção e aventuras. No entanto, algumas obras são extremamente espiritualizadas.

Um excelente exemplo é este nosso exemplar do resumo de hoje: El Peregrino, ou em português O Peregrino, ou ainda conhecido como Diário de Um Mago. Neste livro, o autor conta a história de sua própria jornada quando percorreu o Caminho de Santiago de Compostela. O Caminho de Santiago é uma rota de peregrinação muito antiga. Foi criada originalmente pelo trânsito de devotos, monges, cavaleiros templários e gente comum que iam da França até a cidade de Santiago de Compostela, onde encontra-se a tumba de Tiago Maior, apóstolo de Jesus. O Caminho tem uma história secular e está altamente embebido na atmosfera cristã católica.

Percorrer o Caminho de Santiago é uma aventura exaustiva, individual e introspectiva, onde o peregrino põe em prática o exercício do sacrifício, do autoconhecimento, da solitude e da contemplação.

No livro, Paulo Coelho descreve seu próprio relato de quando percorreu o Caminho pela primeira vez aos 38 anos de idade. Apesar de o leitor não saber ao certo quando o autor está descrevendo os acontecimentos com precisão, ou quando está apenas discorrendo uma aventura fictícia, em verdade, isso não importa muito, porque o mais interessante é a relação das histórias contadas por Coelho com as filosofias orientais. Cada capítulo, história, cada aventura possui uma lição, um aprendizado, uma relação muito íntima com a métrica taoísta, uma similaridade indiscutível com passagens do Bhagavad Gita. A similaridade do personagem Petrus, seu guia, com a figura de Krishna no Gita é um dos exemplos dessa relação. E é justamente aí onde o livro brilha, sob o olhar do leitor atento. O Caminho é a batalha pessoal do autor em busca de sua espada. Mas ao longo deste Caminho ele descobre que o objetivo final não é tão importante assim, senão o próprio Caminho e seus desafios – abordagem do pensamento filosófico oriental. Em algum momento da leitura, vem também o conceito de que ele se tornará uma pessoa diferente ao final daquela jornada, um ser humano transformado pelas suas experiências – o que ressoa bastante com o pensamento budista.

Eu particularmente tenho muito apreço pelas “entrelinhas”, pela história velada, pela descoberta do tesouro literário escondido nos parágrafos. Este volume está recheado disso, é um livro de doutrinas orientais travestido de aventura cristã.

A QUEM SE DESTINA:
Para todos os tipos de estudantes espiritualistas. Principalmente àqueles que possam ter uma resistência natural ao material de Paulo Coelho, faço aqui o convite para quebrar o gelo. É compreensível esta resistência mas o El Peregrino, especificamente, está recheado de pérolas filosóficas.
Minha leitura foi a da versão em espanhol lançada no México, mas os leitores podem ler qualquer versão, em qualquer língua e edição. Peço desculpas, inclusive, por não haver imagem da contracapa do livro, pois a versão que li foi a digital no Kindle.